sábado, 4 de janeiro de 2014

Capítulo 9.5


   Os quatro passaram a tarde inteira treinando os Pokémons de Nate.
   Enquanto Luther ajudava Leon, o Spearow e a Mareep de Cris treinavam o Geodude de Nate. Ao mesmo tempo, a Starx de Lyra tentava aprender a voar com Ícaro. Já havia anoitecido e chegava a hora de descansar.
   Duke ia citando as lições enquanto o Growlithe fazia demonstrações e o Cyndaquil apenas observava. Do outro lado, Nate dava comandos ao seu Geodude para atacar ou desviar dos ataques de seus treinadores. E o Hoothoot mostrava à Ledyba como ele voava, passo a passo, sendo observados por Lyra. Os outros Pokémons que não participavam do treino foram liberados e ficaram próximos dos jovens, estreitando seus laços. Aquela estava se tornando uma noite agitada.

   - Mareep, use Thundershock!
   - Desvie, Geodude!
   O Pokémon elétrico disparou uma discarga elétrica na direção do Pokémon Rocha, que conseguiu desviar do golpe.
   - Spearow, Quick Attack!
   E logo depois, a ave o atingiu de lado numa investida veloz, que o jogou no chão.
   - Nate... O Geodude é um Pokémon do tipo Rocha, ou seja, é imune a ataques do tipo elétrico! Não precisava ter desviado do Thundershock. E poderia ter evitado o golpe do Spearow.
   - Mais uma vez?
   - Claro, primo! Estamos aqui pra isso!
   O Geodude se recompôs e brandiu, exibindo os músculos em seguida, mostrando que estava pronto para qualquer desafio.
   - Ótimo! Mas não pense que eu vou usar a mesma estratégia duas vezes. Não daria essa moleza nem pra você!
   - Vem com tudo, Cris! Nós estamos prontos!

   Os Pokémons voadores decidiram dar uma pausa nos exercícios de voo. A Ledyba ia aprendendo aos poucos, e o Hoothoot não a pressionava.

"Cada um tem seu próprio ritmo. Não podemos apressar a pequena Starx"

   - Você é demais, Ícaro.
   A garota acariciou a cabecinha da coruja, que gostou do carinho. Starx grunhiu como se agradecesse à paciência de tutor.
   - Aposto que vocês se darão muito bem.
   Ícaro usou as mesmas pedrinhas de antes para formar outra frase:

"Eu espero que sim. E anseio pelo dia em que voaremos juntos"

   Era bom ter mais uma amizade entre Pokémon de seu time e do time de Nate. Seus laços facilitariam a interação entre os times e tornariam a jornada mais agradável. Quanto mais próximos os Pokémons e seus treinadores fossem, melhor.
   Lyra se juntou ao seu Chikorita e ao Magikarp, que brincava no lago de Violet City, sendo acompanhado de Ícaro e Starx. O Meowth e o Totodile de Duke estavam lá com a Nidoran de Cris. Os iniciais conversavam sobre algo, e em certo momento o Chikorita começou a ficar nervoso. O aquático continuou a irritá-lo.
   - O que está acontecendo aqui?
   Os dois nem prestaram atenção nela, continuando a discussão. Então, o tipo Grama deu um empurrão em seu provocador, fazendo-o cair na água e assustando o Magikarp.
   - Parem!
   - O que houve?
   Duke e Luther tinham dado uma pausa no treinamento de Leon. O mesmo agora assistia ao treino do Geodude ao lado de seu treinador.
   - Não sei! Eles começaram a brigar do nada!
   Mesmo depois de ser derrubado o Totodile continuava a provocar o Chikorita. O Pokémon de Lyra ameaçava atacar novamente.
   - Gus, pare - ordenou Duke.
   Gus, o aquático, notou a presença de seu treinador e se calou. O Chikorita também percebeu que sua dona estava lá e grunhiu, se desculpando por atacar o amigo. O mesmo voltou à superfície e se desculpou por tê-lo provocado.
   - Mas que discussão foi essa, afinal? - Indagou o ruivo.
  Lyra pensou um pouco antes de dar seu palpite.
   - Acho que o Gus chamava o Chikorita de fraco. Ele nunca lutou muito...
   O Totodile assentiu com vergonha. Duke se surpreendeu por ela ter entendido tão fácil e rapidamente.
   - Como sabe disso?
   - Intuição feminina?
   - Claro. Isso explica tudo.
   O Growlithe do rapaz se juntou aos companheiros de time enquanto Starx se aproximava dos seus. Duke se sentou ao lado da garota para vê-los brincando.
   - O Meowth também tem nome? - Perguntou a garota.
   - Claro. Se chama Ken.
   - Nome diferente - ela observou. - Mas é legal.
   - Eu sei.
   O jovem olhou para Lyra e percebeu que ela o encarava com curiosidade. Ele sabia o que ela estava pensando. Duke tinha apenas 13 anos e já era um rapaz sério e concentrado. Ele mesmo admitia isso com tristeza, mas nunca em voz alta. A líder do ginásio de Olivine, Janine, também percebera isso nele quando ele voltou para sua cidade natal para comprar alguns itens ao lado de Cris. Naquela época eles haviam acabado de conhecer o futuro e procuravam pelas bases secretas do Team Rocket. E pensar que foi algumas semanas atrás... Parecia fazer uma eternidade que ele não via sua cidade natal. E parecia fazer ainda mais tempo que ele não agia como um garoto normal de sua idade.
   - O que foi?
   A voz da garota o trouxe de volta. Duke percebeu que olhava fixamente para o nada enquanto deixava um turbilhão de pensamentos invadirem sua mente.
   - Não é nada - afirmou.
   - Posso perguntar uma coisa?
   Ele assentiu.
   - Como você e a Cris se conheceram?
   - Não é grande coisa - disse ele. - Eu tinha acabado de começar a jornada e estava indo para New Bark Town pegar meu primeiro Pokémon. Quando cheguei em Cherrygrove vi uma pequena multidão na praia e fui ver o que era. A lerda da Cris tinha engolido muita água quando foi nadar e acabou desmaiando. Não era muita gente, e ninguém sabia fazer respiração boca a boca direito. E eu.... Sabe, meu pai me ensinou medidas de primeiros socorros quando há alguns anos, então eu sabia o que fazer. Quando ela acordou, percebeu que eu a tinha salvado e quis fazer algo para me agradecer. Tomamos um café juntos e eu contei pra ela que estava começando a jornada. Cris disse que também tinha acabado de começar e disse que devíamos ir juntos. Eu nem tive tempo para pensar... A maluca me puxou até New Bark.
   Lyra riu. Essa Cris nunca mudaria...
   - Não lembro de ter visto você lá.
   - Eu cheguei e saí cedo de lá. Depois de alguns dias treinando e capturando Pokémons...
   Ele se interrompeu, como se não quisesse falar sobre aquilo.
   - Não precisa falar, se não quiser - confortou-o Lyra.
   - Obrigado.
   Mesmo dizendo isso, Lyra continuava com uma pulga atrás da orelha. Ele estavam viajando há alguns meses e cada um tinha apenas três Pokémons, nenhum evoluído. Por que eles teriam parado de treinar?
   - E você e Nate? Como se conheceram?
   - Bem, New Bark é uma cidade muito pequena. Nossos pais já eram amigos quando nascemos e desde cedo deixaram eu, ele e Cris juntos - contou a garota. - Também não é grande coisa.
    - Mas pelo o que a Cris disse, ele foi embora aos sete anos, certo?
    Lyra assentiu.
    - Por quê?
    - Desculpe... Se eu alguém tem que contar isso é o Nate, se ele quiser. Eu não me sinto muito bem contando essa história - lamentou Lyra.
    - Tudo bem. A Cris disse a mesma coisa - disse Duke.
    Enquanto isso, Gus brincava com o Magikarp na água, Chikorita e Ken brincavam na superfície, Ícaro e Starx retomavam o treino, e Luther os vigiava. Durante a brincadeira, o inicial de Lyra achou um trevo de quatro folhas no chão e mostrou ao amigo. Vendo o interesse dos Pokémons seus treinadores se levantaram para ver.
   - Dizem que dá sorte - disse Duke.
   - Que tal levarmos conosco? Algo me diz que vamos precisar de sorte...
   Chikorita usou seu chicote de vinha para tirar delicadamente o trevo e deu para sua treinadora. Lyra agradeceu acariciando o pequeno.
    - Sabe... Acho que vou te chamar de Trevor.
    Trevor grunhiu, feliz com o novo apelido.
    - Trevor... Trevo... Ah, saquei - disse Duke. - E o Magikarp?
    O peixe olhou para a garota e se aproximou da margem. Ela se abaixou e o acariciou carinhosamente.
    - Eu ainda não sei... Mas isso não te torna menos importante, ok?
    O Magikarp grunhiu alegremente e voltou a brincar com Gus.
    - Não se incomoda tendo o Pokémon que todos chamam de inútil em sua equipe? - Sussurrou Duke.
    - Claro que não. Sei que ele não é inútil. E quando evoluir para Gyarados, quebrará a cara de todos que o subestimam!

   - Thundershock!
   - Fique firme, Geodude!
   Diferente da outra vez, o Pokémon de Nate não saiu do lugar e recebeu o golpe elétrico, não sofrendo danos por ser imune. Logo em seguida o Spearow de Cristina avançou para atacá-lo por trás.
   - Atrás de você!
   O Geodude não teve tempo para esquivar ou contra-atacar; novamente foi jogado no chão.
   - Pense rápido! - Exclamou Cris.
   - Nós sabemos! Pode aguentar outra, amigo?
   O Pokémon mostrou o sinal de positivo com seu típico sorriso desafiador.
   - Esse aí é durão - comentou a azulada.
   Nate sorriu.
   - Quer saber? Acho que encontrei o apelido perfeito para ele.
   - E qual seria?
   - Não vou dizer ainda, tenho que saber o sexo dele primeiro. Vamos voltar ao treino!

   Quando Duke decidiu que Leon já tinha concluído treinamento com Luther, e Ícaro informou à Lyra que Starx já sabia o básico sobre voos, o Hoothoot e o Cyndaquil iniciaram seu treino psicológico. Nate também havia acabado de encerrar o treino do Geodude e foi assisti-los. Impaciência, ansiedade... Eram alguns dos fatores que poderiam atrapalhar Leon na batalha, segundo Ícaro. Isso somado às instruções de Duke aperfeiçoariam as habilidades do Pokémon.
   - O que eles estão fazendo? - Perguntou Lyra.
   - Eles estão calados desde o começo... Deve ser algum tipo de telepatia, ou sei lá o quê... É chato não poder participar.
   - Estamos indo dormir no Centro Pokémon. - A garota lhe entregou uma chave. - Seu quarto é o 3G. Você precisa ir dormir logo, amanhã é um grande dia!
   -  Eu sei, mamãe - brincou Nate. - Já estamos indo.
   Lyra se afastou e o rapaz continuou a observar seus Pokémons. Ele não sabia ao certo o que eles estavam fazendo, mas esperava que estivesse fazendo efeito. E realmente estava. De alguma forma, Ícaro conseguira conversar com Leon telepaticamente, e seus ensinamentos eram claros. "Conheça seus limites. Lembre-se que todos têm seu próprio ritmo para aprender as coisas. Você não pode querer ser o melhor de um dia para o outro, isso requer esforço e dedicação. Tenha paciência e você chegará ao topo".
   - Hã... Pessoal? Podem continuar isso lá no quarto? Eu preciso dormir...
   Os Pokémons concordaram e foram retornados para suas respectivas Pokébolas.
   Nate adentrou o Centro quase cambaleando de tanto sono. Subiu as escadas e procurou por seu quarto. Quando o encontrou, colocou a chave para abri-lo, mas já estava aberto. Mesmo estranhando o rapaz entrou e se jogou na cama. Espera...
   - AAAAHHHHH!!!
   - L-Lyra?! O que você tá fazendo no meu quarto, sua doida?!
   - É o MEU quarto!! Quantas vezes você ainda vai fazer essa confusão?! Agora sai de cima de mim, seu pervertido!
   - Eu não sou pervertido!
   - Você não me convence muito!
   Nate saiu de cima da amiga num pulo, ambos vermelhos como um tomate.
   - Seu quarto está é ao lado desse... Esse é o 2G!
   - Lyra, foi mal mesmo! Eu estou grogue de sono, acabei confundindo...
   A raiva da garota passou e ela abriu um sorriso carinhoso.
   - Tudo bem... Desculpe por ter explodido.
   - Você tinha o direito. Eu praticamente pulei em cima de você! Caramba, eu estava numa posição meio... Caramba! Foi mal.
   Lyra riu e beijou a bochecha do amigo.
   - Boa noite, maluquinho.
   Nate sorriu. Antes de sair, resolveu conversar um pouco com a amiga, como no dia em que invadira seu quarto em Cherrygrove.
   - Ei, Lyra... Eu estive pensando... O Duke e a Cris disseram que todos morrem no futuro, e quem sobrevive só pode ver seus amigos morrendo... E eu pensei...
   - O quê?
   Alguma coisa o impediu de continuar falando, como se tivesse engolido uma bola de gude e ela tivesse parado no meio de sua garganta.
   - Nada, era besteira. Deixa pra lá. Boa noite.
   Nate já ia colocar a mão na maçaneta quando Duke abriu a porta com um empurrão, o derrubando no chão. Ao seu lado estava Cris com uma vassoura.
   - Por que você gritou?! Alguém te atacou?! Tem um fantasma aqui?!
   - A única pessoa que sofreu um ataque aqui fui eu...
   Duke e Cris repararam em Nate caído com uma marca avermelhada no rosto. O ruivo o ajudou a se levantar e se desculpou pelo acidente.
   - Só agora que vocês vieram?! - Espantou-se Lyra. - Se fosse um assassino eu já estaria morta e ele já teria fugido!
   - Teríamos entrado antes, mas a Cris ficou com medo e foi buscar essa vassoura - explicou Duke.
   - Não jogue a culpa em mim!
   - Mas a culpa foi sua.
   Eles começaram a discutir. Lyra suspirou e voltou para a cama.
   - Por que será que meu quarto é sempre lugar de bagunça...?

   Enfim chegara o dia. Estava na hora do primeiro desafio de ginásio de Nate. Em suas mãos estavam as Pokébolas de seus Pokémons que batalhariam, já treinados para o desafio. Ao seu lado, sua melhor amiga, sua prima, e... Bem, um cara que ele esperava poder chamar de amigo em breve.
   - Leon, Gravel, conto com vocês, carinhas. Vocês conseguem.
   - O apelido do Geodude é Gravel? - Perguntou Cris.
   - Ele é duro como pedregulho, saca? - Riu Nate.
   A azulada riu de leve. Lyra sorriu para ele, transmitindo ainda mais confiança. Duke deu um tapinha em seu ombro.
   - Fique calmo e lembre do que aprendeu.
   - Pode deixar.
   E assim, eles adentraram o ginásio de Violet City.

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